Terça-feira, dia de estreia da Seleção na Copa. Três horas antes de o time de Dunga entrar em campo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona o aumento de 7,72% aos aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Apesar das declarações dúbias dos dias anteriores – dizendo que não se deixaria “seduzir por qualquer extravagância por conta do processo eleitoral” –, a decisão já havia sido tomada há pelo menos duas semanas.
No final de maio, irritado com a demora na definição da fonte de recursos para o reajuste, Lula convocou a equipe econômica:
– Quando eu disse que era para resolver, é para resolver. Porra, vocês têm de dar um jeito nisso. Se eu vetar, a gente não elege a Dilma e nem mesmo o Paim – disse ele aos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), referindo-se a sua candidata à Presidência e ao senador gaúcho Paulo Paim (PT).
Lula estava pressionado pelo Congresso, que havia aumentado o índice de 6,14% para 7,72%, provocando um déficit extra de R$ 1,6 bilhão na Previdência. Um veto à medida seria usado pela oposição e poderia prejudicar Dilma.
O Planalto também passou a ser constrangido pela própria base governista, temerosa dos custos políticos de um veto. Duas semanas antes de o presidente sancionar o aumento, expoentes do PT na Câmara convocaram o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) para uma conversa à noite. Sem rodeios, advertiram o ministro de que a bancada não poderia arcar com o prejuízo dos vetos sugeridos pela área econômica.
– É muito difícil para nós, que temos origem no movimento sindical, nos posicionar contra – desabafou Ricardo Berzoini (PT-SP).
Ministro sugeriu cobrar a conta do Congresso
Padilha concordou e prometeu levar as ponderações ao presidente. Bernardo e Mantega, porém, continuavam irredutíveis. Repetiam que não havia espaço para um gasto bilionário. O próprio Lula estimulava a cisão interna no governo, incentivando os ministros Carlos Lupi (Trabalho) e Carlos Eduardo Gabas (Previdência) a dizer que era possível pagar os 7,72%.
Na estrada em campanha, Dilma era cobrada por aposentados e sindicalistas. Durante uma visita a Chapecó (SC), o presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowski, pediu que a ex-ministra interviesse junto a Lula para garantir o aumento. Prudente, Dilma preferiu não se comprometer:
– Vou conversar com o presidente e vamos procurar tomar a melhor solução possível.
Na manhã de terça-feira – dia em que se esgotava o prazo para a decisão –, Lula comandou três reuniões em seu gabinete. O presidente estava disposto a fazer um afago nos aposentados, mas não queria comprometer as contas. Lula questionou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), sobre a possibilidade de aprovar outra MP no Congresso, com índice menor. Vaccarezza não deu esperanças:
– Não temos a mínima condição de aprovar 6,14%, presidente. Pode acontecer coisa pior, como a aprovação dos 8,5% articulados pela oposição.
Diante de Bernardo, Mantega, Vaccarezza e Gabas, Lula pediu uma alternativa urgente. A solução partiu então de Bernardo, que sugeriu um corte nas emendas parlamentares. O presidente aprovou a ideia de imediato. Além de faturar eleitoralmente com o reajuste a 8,3 milhões de aposentados, devolvia ao Congresso o abacaxi imposto pelo aumento do índice previsto para a correção, podando os repasses usados para irrigar a base eleitoral de deputados e senadores.
– Se o Congresso fez uma opção, também tem de se responsabilizar por ela – justificou Mantega.
Fonte:FABIANO COSTA E FÁBIO SCHAFFNER - Zero Hora-20.06
21 de junho de 2010
Como Lula optou pelos 7,72%
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