No “chão da fabrica”₁ é onde estoura as péssimas condições de trabalho e os conflitos. A falta de funcionários somente agrava isto. Trabalhadores começam a condenar outros trabalhadores que ficam doentes e pegam atestados. Um quer que a chefia demita o outro, supervisores a flor da pele. Todos estão no limite nos locais de trabalho. Neste momento o que dissemos é: “Casa que falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão”. O pão a que me refiro é o efetivo completo nas unidades e uma política de gestão de pessoas.
Enquanto não tivermos o efetivo regularizado não adianta trabalhador bancar o médico, nem chefe bancar o juiz do trabalho. Nesta hora temos que trabalhar nos limites que nos impuseram. Se der pra entregar tudo, vamos entregar! Se precisar trazer de volta vamos trazer de volta. Se der pra triar tudo triaremos, mas se não der, amanhã é outro dia. Nas agências atendimento com muita calma e atenção, porque se faltar grana quem paga é o atendente.
Quero alertar a todos sobre a situação de assédio moral que esta se alastrando Brasil afora. Como faltam condições de trabalho dignas muitas pessoas estão assediando às outras de forma descarada.
Assédio Moral
Lembro que o assédio moral se dá de várias formas, e ainda que o de cima para baixo, chefe contra trabalhador, seja o mais visualizado, existe o assédio moral na horizontal, trabalhador contra trabalhador, e de baixo para cima trabalhador contra o chefe. Este problema é uma epidemia que devemos tratar. As condições na ECT hoje são favoráveis à propagação do assédio, o que chamamos de assédio moral institucional ₂ , quando a organização cria as condições para a propagação e isto passa a fazer parte da estrutura produtiva da empresa de forma velada.
Então senhores e senhoras, devagar com o andor que o santo é de barro. Vamos refletir nossas ações e procurar construir um ambiente de trabalho saudável e respeitoso, pois nossas ações sobre o outro pode devastar sua vida e sei do que estou falando.
O que falta?
Falta é respeito!
Nestes 17 anos de sindicalismo já atendi muitos trabalhadores acabados, sem alto estima, sem vontade de viver pela humilhação no local de trabalho. Hoje se debate mais o assédio, mas muitas pessoas ainda hoje acha que é frescura.
Posso dizer que hoje na ECT assistimos muitas situações assediadoras de chefe contra trabalhador, por exemplo; excesso de SIE (solicitação de informação ao empregado), contagem de objetos triados com freqüência, falta de espaço para o contraditório, bronca em público e em voz alta, cobrança em excesso, metas absurdas de venda, etc.
Mas também vejo assédio de trabalhador contra trabalhador principalmente contra aqueles com doenças como (hérnia de disco, problemas nos joelhos, LER-lesões por esforços repetitivos) que de tempo em tempo pioram e é necessário o afastamento. Muitos trabalhadores fazem brincadeiras sem o menor sentido, outros dizem que se fossem chefes demitiriam e por ai vai.
Não podemos deixar de notar, que ainda que mais difícil, acontece o assédio de trabalhador contra chefe, é isto mesmo! Eu vi em vários setores, onde tem trabalhador que diz que o chefe deveria demitir o cara porque ele é malandro. Absurdo ! E ai começa a dizer que o chefe e bunda mole e coisa do gênero. Não que o chefe é bom ou bunda mole porque não demite. O fato é que ninguém é médico para saber a realidade do trabalhador, e hoje, temos a proteção da OJ(orientação jurisprudencial) 247 do TST₃ , que determina o devido processo administrativo para a demissão.
Para entender
Antes a empresa tinha uma alta rotatividade (turnover)₄ de até 8% do efetivo, hoje temos na casa do 3%. A ECT tratava os trabalhadores como laranjas, onde chupava o caldo e jogava o bagaço fora. Hoje com a proteção aos trabalhadores, o nível de reabilitações profissionais e afastamento médico dispararam na ECT.
Porque isto esta acontecendo?
A falta de uma política de gestão de pessoas que possa tratar de fato as pessoas, a política de retirada de direitos trabalhista quando do afastamento médico como nos tíquetes, onde após 90 dias o trabalhador afastado perde o direito ao tíquete, assim como a retirada dos 20% mínimo do auxilio doença que tínhamos no plano BD do Postalis ₅ que hoje não temos mais, fez com que o trabalhador vá para o INSS somente quando o mesmo esta aleijado.
Quem em sã consciência optaria por ir ao INSS e ganhar apenas o salário e perder o tíquete? Que família ecetista de base sobrevive somente com o salário?
Agravados a isto têm a falta de funcionários que hoje nós estimamos seja na casa dos 30 mil trabalhadores. Estamos trabalhando muito. O ambiente de trabalho esta nos adoecendo. Quando afastados estamos passando necessidades. Não temos o dinheiro necessário para o tratamento médico, para nos alimentar corretamente quando mais precisamos.
A nova gestão que assume a ECT deve mudar o raciocínio e construir uma política de saúde do trabalhador que mantenha nossos irmãos saudáveis. Temos excelentes trabalhos desenvolvidos na própria empresa por gente séria, podemos citar a cinesioterapia ₆ , um projeto pilota que foi implantado na diretoria do Rio Grande do Sul, no CTCE, que visa o tratamento em horário de serviços dos trabalhadores em equipes multidisciplinares, estimasse que 30% do efetivo em CTCEs estejam lesionados.
Temos que rever as condições das pessoas em afastamento para tratamento de saúde, gente com câncer e doenças degenerativas recebendo uma migalha na hora que mais precisa. Temos que acabar com o assédio moral. A FENTECT e seus sindicatos filiados precisam se mobilizar, este assunto é sério e ainda acho que tratado de forma secundária. Temos que colocar na ordem do dia, nas pautas de reivindicações e sensibilizar nossos irmão para esta luta.
Rogério Ubine
Secretário de Relações Internacionais da FENTECT
Vice-presidente do Comitê Postal da UNI-AMÉRICAS
Conselheiro Deliberativo do Postalis
₁ - Expressão usada para designar as unidades operacionais na base(CDDs, Agencias, CTCEs, CEEs). ₂ - Assédio Moral Institucional - definição de Roberto Heloani, para as empresa que criam todas as condições para existência do assédio(Seminário Ceará).₃ OJ 247 – Fixa condições para a demissão de servidores público de empresa pública como Correios, exigindo para a demissão o devido processo administrativo. ₄- Turnover ou rotatividade – Percentual de trabalhadores demitidos ou que pediram demissão na empresa em um determinado ano. ₅ - Plano de benefício definido saldado obrigatoriamente em fevereiro de 2008, que concedia auxilio doença de no mínimo 20%. ₆ - Cinesioterapia é definida etimologicamente como a arte de curar, utilizando todas as técnicas do movimento. Licht (1965) definiu exercício terapêutico como "movimento do corpo ou das partes corporais para alívio de sintomas ou melhorar a função".
3 comentários:
valeu rogério !! vmuito bom o artigo!!!!
ROGÉRIO CAMARASDA, PARABENS PELA SEU BLOG, EM ESPECIAL A MATÉRIA SOBRE ASSÉDIO MORAL.
O QUE FALTA?
RESPEITO, E VONTADE POLÍTICA DE EXTIPAR ESSA PRAGA DO NOSSO MEIO, BOA NOITE...
JOSAFÁ
Parabéns ROGERIO
Um texto simples e facil de ser entendido
Obrigado pela orientação
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